Arremate é uma pesquisa em poéticas visuais que surgiu a partir da criação de bordados em papel, com as imagens de animais que encontrei mortos no cotidiano ou em viagens. Pelo longo tempo dedicado ao trabalho de bordar, o processo adquiriu uma noção de ritual diário, no qual, digeria a respeito de atravessamentos de morte que enfrentei no passado, dessa forma, me afirmando como vivo, presente no espaço e tempo, concomitantemente em que vou me preparando para morrer.
Um dos bordados da série Arremate, 2019, bordado com linha de costura sobre o papel, 78 x 58,5cm
Avesso de um dos bordados da série Arremate, 2019, bordado com linha de costura sobre o papel, 78 x 58,5cm
Um dos bordados da série Arremate, 2019, bordado com linha de costura sobre o papel, 65 x 77cm
Avesso de um dos bordados da série Arremate, 2019, bordado com linha de costura sobre o papel, 65 x 77cm
Um dos bordados da série Arremate, 2019, bordado com linha de costura sobre o papel, 78 x 87,5cm
Avesso de um dos bordados da série Arremate, 2019, bordado com linha de costura sobre o papel, 78 x 87,5cm
     Para a minha pesquisa de conclusão de curso em Artes Visuais na FAAP, segui por um caminho ponderativo, investigando a serenidade mórbida presente nos animais mortos que encontrava. Sabia que precisava do tempo de reflexão, compreensão, maturidade, e, assim como nos bordados, do tempo para saber lidar com atravessamentos.
     O bordado surge então como o meio para essa reflexão, uma vez que trago os atravessamentos da agulha conectados pela linha como remetendo ao atravessar de experiências que, em conjunto, fundamentam a vida.
      A vida e o bordado estão entrelaçados. Em ambos, os atravessamentos e suas marcas são os pontos de conexão que constituem a existência, seja da imagem, seja da vida de um indivíduo. Porém, me refiro somente ao momento de bordar como vida, uma vez que, quando finalizado, o bordado passa a ser algo morto. Então, a partir da vida, bordei a morte da pomba, do peixe e do rato.
     Arremante foi uma forma de amadurecimento, de transformação perceptiva da existência tendo em vista a morte. Esta, por sua vez, sempre tão marcante em minha vida, adquiriu diferentes noções. Se antes a morte era apenas uma tragédia e/ou uma infelicidade, agora ela também é um momento de reflexão e abertura às transformações que são derivadas da casualidade, principalmente a respeito daqueles que continuam vivos.
     Em meio à memória daqueles que se foram, criei novas perspectivas de vida. De fato, a morte é a triste e verdadeira conclusão da história, é a etapa final da vida, mas, antes da morte chegar, há uma vida. Ela nos lembra do tempo restante, das linhas que as Parcas (entidades da mitologia grega que teciam o fio do destino humano) continuam tecendo. Esse tempo de vida, portanto, deve ser aproveitado.
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